Assim como os humanos, os gatos também precisam tomar uma boa quantidade de água para garantir o bom funcionamento do organismo. Porém, na prática, é difícil fazer nosso gatinho que está em casa toma água suficiente. Por quê isso acontece?
Isso acontece devido a origem dos gatinhos. Seu parente selvagem mais próximo é o gato selvagem africano (Felis lybica), que mora no deserto e, por isso, não tem o hábito de beber água, a obtendo a partir do tecido das presas que caça, como pequenos roedores e répteis.
Nosso gatinho doméstico mantém esse hábito de tomar pouca água.
Nós trouxemos os gatos para dentro de casa (por motivos diversos, inclusive para a segurança deles), e ao fazer isso mudamos a dieta deles também: eles não comem o que caçam, e sim uma ração seca, que tem baixíssimo teor de umidade, se comparada à composição da presa. Observe os gráficos a seguir para entender melhor o que quero dizer:
Ou seja, os gatos naturalmente já não tem o instinto para tomar grandes quantidades de água e ainda por cima muitos comem exclusivamente ração seca = hidratação comprometida.
Por isso é muito importante que a umidade venha já da alimentação, já que é dali que o corpo dele espera conseguir a hidratação.
Benefícios da hidratação adequada:
Segundo o artigo “Interstitial Cystitis” in Cats: Environmental Enrichment and Nutrition, do veterinário Charles A. Tonny Buffington, hidratação adequada também evita que o animal desenvolva as famosas DITUIFs (Doenças do Trato Urinário Inferior), como cistite intersticial, entre outras comorbidades.
Além de ser benéfica para a saúde da vesícula urinária, uma dieta úmida é essencial para a longevidade dos rins e previne o desenvolvimento da DRC (Doença Renal Crônica) que atualmente afeta a maioria esmagadora dos felinos domésticos que chegam a idade senil.
Como trazer mais umidade para a dieta do gato
Incluir alimentos naturais
Entre as opções para garantir a umidade na dieta, está a alimentação natural, prescrita pelo médico veterinário capacitado que trabalha com nutrologia.
É possível dar uma dieta 100% preparada com alimentos, que consiste majoritariamente de carnes, vísceras e bem pouca matéria vegetal, de forma a balancear os nutrientes para as necessidades desse pet carnívoro.
Também é possível fornecer dietas mistas: manter o paciente na ração que ele prefere e servir alimentos úmidos, como carnes, ovos e peixes, como um complemento.
Lembrando que é importante consultar um médico veterinário que trabalha com nutrologia para te orientar como e quanto servir desses alimentos ao seu gato.
Rações úmidas e sachês
Se mesmo insistindo seu bichano não aceitou os alimentos naturais, uma solução é dar ração úmida para ele, além da seca. Procure idealmente por sachês livres de grãos.
Lembrando que qualquer mudança deve ser gradativa. Alguns animais aceitam comidas novas mesmo depois de adultos, mas muitos não. Por isso é necessário ter paciência e insistir na nova alimentação até que o gato entenda que isso faz parte da rotina. Isso pode levar dias, semanas ou meses, dependendo do animal.
Estimular ingestão hídrica
Outra forma de aumentar a hidratação, é estimular o seu gatinho a tomar água. Lembre que eles são descendentes de um animal desértico, que não tem o hábito de tomar água. Procurar por água não é algo natural para a grande maioria dos gatos. Por isso que precisamos tentar várias estratégias diferentes até encontrar algo que funcione para cada bichano. A maioria dos animais prefere consumir água corrente e fresca, então as fontes são uma ótima opção.
Caso ele prefira água em pote, teste diferentes formatos. O que costuma dar mais certo é um pote com boca larga e bordas baixas. Quando o pote tem bordas altas, as vibrissas ("bigodes") encostam nas bordas e geram certo desconforto pro gato, o que desestimula ele a usar o bebedouro. Outra dica é usar materiais laváveis como inox, vidro ou porcelana.
Além disso, uma ideia muito bacana é colocar mais de um pote de água em locais diferentes da casa e em superfícies altas, sempre longe da comida, caixa de areia e de máquinas que possam fazer barulho repentino. Isto porque o estresse no animal também pode desencadear problemas urinários. O mesmo artigo do Dr. Tony Buffington trouxe um exemplo de um gato com um pH urinário de 6,1 em casa e que subiu para 7,6 quando chegou no hospital. Ou seja, o estresse da mudança de ambiente foi o responsável por essa alteração.
Então a melhor maneira é criar um ambiente onde o gato possa comer e beber em local tranquilo, individualmente, onde não se assuste com outros animais, movimento repentino ou atividade repentina.
Como você pode perceber, a hidratação adequada é um fator primordial para garantir saúde a longo prazo e prevenir doenças crônicas em gatos e são várias as estratégias que podemos utilizar para promover uma saúde ótima aos bichanos que amamos <3
Conte sempre com a orientação de seu veterinário (a) pró-ativo (a) que se baseia na PREVENÇÃO como melhor forma de tratamento que existe.
MV Giovana F. Esmanhoto Arazaki
Médica Veterinária
CRMV-PR 15.170
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